segunda-feira, 9 de setembro de 2019

16 Tipos para Entender a Língua Bolsonarista


16 Tipos para Entender a Língua Bolsonarista
Ricardo Sturmer
setembro 2019
Bolsonaro fala para um público segmentado e é neste sentido que devemos entender suas declarações estapafúrdias. Cada uma delas visa agradar uma parte de seu público. A sua campanha, apoiada por Bannon-Cambridge Analítica, foi baseada nesta segmentação. Suas declarações violentas, que podem ser tomados como ato, levam ao aumento da violência, como a execução do sequestrador do ônibus no Rio ( um negociador poderia ter evitado, um tiro bastava para neutralizar, 5 tiros é execução ) e as mortes por tiro nas comunidades ( a Glöbbelsgolpe não fala de tiros da polícia ).
O ponto forte foi a campanha de desinformação que envolvia a discussão da sexualidade no ambiente escolar. Foi montada a divulgação de uma black-propaganda que atribuía a esquerda uma corrupção moral de erotização infantil que levaria à pedofilia.
Os tipos distinguidos por Isabel Kalil do público segmentado de bozo nos ajudam a melhor dialogar com estas pessoas e entender o motivo das besteiras faladas por ele. Abaixo um extrato de sua pesquisa:

1. As pessoas de bem:
Instituições fortalecidas para o fim da impunidade
Não acreditam que a “justiça com as próprias mãos” possa a
ser a solução para o país, repudiam a violência entre os cidadãos e desejam que
as instituições sejam fortalecidas. Este perfil comporta um amplo espectro de
posições que variam desde a proposta de que a Polícia Federal deveria substituir
o Supremo Tribunal Federal, até aqueles que clamam pela volta da ditadura
militar ou uma “intervenção militar temporária e constitucional”.
A frase “direitos humanos
para humanos direitos” serve como síntese para expressar que o Estado só age
de maneira mais bruta ou viola direitos daqueles que não são “pessoas de bem”.

2) Masculinidade viril:
Armas para os civis fazerem justiça com as próprias mãos
Muito próximo da “pessoa de bem”, estes perfis compartilham das
mesmas características com uma exceção: a justiça não seria “terceirizada” para
as instituições e sim exercida pelo próprio cidadão.
Este perfil enxerga a violência urbana como o maior problema
social e se vê como um sujeito constantemente ameaçado. Alguns homens deste
perfil definem a si mesmos como “opressores”. Diante do problema da violência,
o “opressor”, vislumbra no porte de armas uma solução, pois acredita que os
cidadãos devem ter condições de se defender e também de praticar justiça,
quando necessário. A justiça neste sentido, é vista como a capacidade de se
defender de “bandidos”, mas também de se defender contra eventuais abusos do
próprio Estado, leia-se uma ditadura comunista ou um governo autoritário de
esquerda.

3) Nerds, gamers, hackers e haters
A construção de um mito
Esse grupo foi um dos principais responsáveis
por disseminar a imagem de Bolsonaro em sua pré-campanha, o que contribuiu
consideravelmente para sua atual “popularidade”. A figura em particular
construída pelos nerds, gamers e hackers conservadores compreende a do
‘bolsomito’, lapidada a partir da produção, majoritariamente nas redes sociais,
de memes centrados no candidato, geralmente acompanhados por um tom
jocoso e provocador”.

4) Militares e ex-militares
Guerra às drogas como solução para a segurança pública
Repudiam, em sua maioria, a escalada da criminalidade, a
desvalorização e o sucateamento das instituições voltadas para a
segurança pública e também a falta de ordem nas instituições nacionais e na
sociedade civil.
No tema da criminalidade, este perfil critica a ascensão de facções criminosas
como PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho), vinculam
esse fenômeno à despreocupação dos governos de esquerda com o tema da
segurança pública, em especial, o problema do tráfico de drogas.

5) Femininas e “bolsogatas”:
Mulheres “empoderadas” para além do “mimimi”
Assim, algumas dessas mulheres repudiam mais a agenda feminista,
outras repudiam mais o assédio dos homens e a violência contra a mulher. Mas
em todos os casos se alinham com proposições de políticas duras contra a
“corrupção”, a criminalidade e também contra a violência de gênero.

6) Mães de direita:
Por uma escola sem “ideologia de gênero”
Essas mães defendem que a “inocência” e a “ingenuidade” infantil devem ser
preservadas e temem a “doutrinação da ideologia de gênero” e/ou “doutrinação
marxista” nas escolas pelos professores.

7) Homossexuais conservadores
Homem é homem”, não importa se gay ou hétero
A maioria deste perfil é formada por
homens, poucas mulheres lésbicas são vistas em meio ao grupo. Este perfil se
combina com a “pessoa de bem” na crença de que apenas as pessoas LGBT que
sofrem violência são aquelas que “dão pinta” ou “não se dão o respeito”. Embora
este grupo não seja numericamente a maior base de apoio a Bolsonaro, seu
perfil é essencial para ajudar a comprovar a tese de que o candidato não é
homofóbico e respeita as liberdades individuais.
Este perfil tende a naturalizar o discurso “anti gay afeminado”, ou seja, uma pessoa
homossexual deveria manter a “compostura” perante as pessoas mais velhas e
crianças, para não oferecer exemplos de “vulgaridade em público”.

8) Etnias de direita
Minorias perseguidas por se posicionarem a favor de Bolsonaro
Suas principais reivindicações são no sentido de buscar
maior autonomia de posicionamento político, defendendo que minorias étnicas
têm sido perseguidas por se posicionarem a favor de Bolsonaro.
A atuação deste perfil é orientada pela ideia de que os
governos de esquerda teriam fragmentado uma “unidade nacional” e que
Bolsonaro teria como proposta um “governo unificador” baseada na ideia de que
“o Brasil é um só”, como expressa o jargão propagado pelo próprio candidato.
Alguns são contra as cotas, muitos são contra o “vitimismo”. A questão do
desemprego é recorrentemente citada. Sua atuação visa diluir as diferenças
entre as classes, etnias e gênero que, segundo essa tendência, teria sido
propagadas pelos governos, intelectuais e militantes de esquerda.

9) Estudantes pela liberdade
Voto rebelde contra a “doutrinação marxista”
Estes estudantes não se veem contemplados pelo ambiente escolar ou
acadêmico e se sentem privados da participação em grêmios e centros
acadêmicos em razão de posicionamentos políticos.
Dentre os estudantes de ensino
médio privado temos aqueles que são contrários às políticas públicas que
possibilitam acesso dos jovens de ensino público na universidade e também
qualquer mecanismo de cota que “facilite” ou “privilegie” certas camadas sociais
em detrimento de outras. Para estes, o mérito é o que deve imperar.
Especificamente em relação aos cursos de
humanidades, fazem fortes críticas à uma “educação doutrinadora”, que não
respeita os valores que os alunos trazem de casa, ou, até mesmo, de sua
“formação política independente”. Vislumbram a “doutrina marxista” como uma
grande ameaça à educação imparcial liberal, fazem coro a discursos sobre o
“marxismo cultural” e da escola enquanto uma forma de reprodução da
“ideologia comunista”.

10) Periféricos de direita
Os "pobres" que desejam o "Estado mínimo"
O grupo caracteriza-se pela revolta e pela denúncia da
violência e da impunidade que são por eles vividas em regiões periféricas da
cidade e/ou questões específicas como violência contra mulheres e crianças,
estupro, problemas econômicos, desemprego, corrupção e ainda sobre a má
qualidade dos serviços públicos. Segundo esta perspectiva, as posturas e
propostas “de esquerda” não dão conta de resolver ou não davam a atenção
necessária para estas questões, com ênfase especial à questão da segurança
pública.
Sobre uma potencial redução do papel do Estado - já que são pessoas que
dependem dos serviços públicos -, na percepção de parte dos entrevistados, a
defesa do Estado mínimo significa que o Estado deveria intervir o mínimo
possível em questões consideradas como o campo da religião ou da vida íntima
(leia-se moral) e não necessariamente implicariam em uma redução de serviços
públicos, como a educação e a saúde.

11) Meritocratas:
O antipetismo dos liberais que “venceram pelo próprio mérito”
Este perfil assume um dos discursos mais convictos
principalmente contra a corrupção, tendo como expressão um acentuado
antipetismo. Possuem uma visão mais racional e esclarecida a respeito de um
projeto de Estado neoliberal ou Estado mínimo. Defendem redução ou corte de
programas sociais, tendem a ver estes programas ou como privilégios ou como
formas de tornar as pessoas pouco produtivas.
O que importa é que Bolsonaro não
representará o modelo econômico petista que corrobora uma tendência vista
como negativa na sociedade brasileira que teria “muitos direitos e poucos
deveres”.

12) Influenciadores digitais
Liberais e conservadores “salvando o Brasil de se tornar uma Venezuela”
Os/as influenciadores/as tem eles/elas mesmos/as perfis heterogêneos: 1)
Convertidos: pessoas que já foram comunistas, gays, feministas, ateus e
militantes de esquerda, mas que abandonaram esses movimentos e assumiram
uma postura de duras críticas em relações a eles. 2) Celebridades: são, muitas
vezes, cantores, atletas e artistas que declaram apoio à Jair Bolsonaro, seus
posicionamentos geram grande repercussão. 3) Pensadores, intelectuais e
jornalistas que lançam tendências, realizam análises e, por vezes, possuem
afinidades ideológicas com a direita internacional (liberal ou conservadora).

13) Líderes religiosos
A defesa da família contra o “kit gay” e outros pecados
São arautos do que é entendido como formas de conduta
adequadas e íntegras, por conta disso, repudiam a “ideologia de gênero”, que é
vista como pecado e degeneração dentro das instituições religiosas. Possuem
um discurso extremamente forte em relação ao que chamam “kit gay”, que
estaria corrompendo as crianças na escola. Segundo eles, seriam materiais
didáticos e ações que estariam “ensinando para meninos que ser menino é
errado e para meninas que ser menina é errado”. São extremamente críticos ao
feminismo, especialmente, na questão do aborto. Nesse contexto, seu discurso
deixa claro que pautas defendidas pelo movimento feminista, movimento LGBTQ
e projetos de discussão de gênero e sexualidade nas escolas estão promovendo
a “destruição da família tradicional”.

14) Fieis religiosos
Cristãos pela “família tradicional”
O que repudiam: Possuem a percepção de que a “família tradicional” vem sendo
ameaçada nos últimos tempos e que o PT corroborou para que isso acontecesse,
sobretudo com aquilo que propunham para a educação das crianças, levando
“ideologia de gênero” e o “kit gay” para dentro das escolas. Acreditam que nos
últimos tempos houve, no Brasil, uma inversão de valores onde há defesa do
criminoso e não da vítima, o aumento do incentivo ao consumo de drogas, ao
aborto e a promiscuidade por parte de jovens esquerdistas e feministas. Estes
grupos estariam subvertendo a família tradicional em favor de uma possível
“ditadura gayzista”.

15) Monarquistas
O retorno a um passado glorioso
A figura do “príncipe” é importante na campanha do
candidato para ajudar a conformar um ideal de “passado glorioso”, que é
evocado seja pelos tempos imperiais, seja pelo tempo dos militares. Em ambos
os casos, se busca reforçar a “manutenção da ordem”. Assim, como a glorificação
dos tempos da ditadura militar, a figura dos monarquistas ajuda a construir
imagens de um passado utópico em relação a um futuro distópico e caótico.

16) Isentos
Política não se discute”
Estão incluídos nesse grupo pessoas que mantém a opinião de que “religião,
política e futebol não se discute”, ao menos em público. Característico desse
perfil são as pessoas que defendem que Bolsonaro não representa a solução
para os problemas do país, mas possuem um forte sentimento antipetista,
anticorrupção ou antisistema.
Tendem a ver que a polarização foi iniciada pelo PT,
embora tanto a direita quanto a esquerda são vistos como agentes da violência,
reforçando sua posição apaziguadora de conflitos. Em seu discurso, também está
presente uma forte repulsa à corrupção, o que na verdade alimenta seu
antipetismo, argumentam que a corrupção passou dos limites e que ela é uma
das maiores responsáveis pela crise econômica do país.

Referências